sábado, 26 de março de 2011

TREM-BALA: O DISPARATE TERCEIRO-MUNDISTA - ARTIGO DE ALOYSIO NUNES FERREIRA

Aloysio Nunes Ferreira*
Trem-bala: o disparate terceiro-mundista
“O projeto é produto ou do delírio de burocratas que perderam a noção da realidade ou de interesses escusos de grupos empresariais ligados a partidos da base governista”

O governo federal anunciou um corte de R$ 50 bilhões no orçamento da União para 2011. Alega, para isso, a necessidade de conter a inflação, impedir a alta de juros e a interrupção dos serviços essenciais ao dia a dia da população, que depende das políticas públicas – como, por exemplo, na área da saúde.

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Como explicar tal corte, que com certeza vai impactar o ritmo de crescimento, aniquilar empregos e inviabilizar a ampliação da infraestrutura nacional, se a presidente da República insiste em manter projetos mal estudados e de utilidades questionáveis. O exemplo mais eloquente desse tipo de projeto é o trem de alta velocidade, o chamado trem-bala, custoso e sofisticado veículo, capaz de desenvolver até 350 km por hora, na ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Tal projeto vai consumir R$ 35 bilhões, vindo a maior parte desse dinheiro dos cofres públicos, sem que se aumente um único quilômetro da malha ferroviária convencional brasileira, sem que nenhuma de nossas capitais receba um único centavo a mais para implantação de metrôs e sem que se construa um único novo quilômetro de rodovia, novos portos e aeroportos.

Quando foi anunciado pelo governo federal, o trem-bala era um projeto a ser bancado pela iniciativa privada. Portanto, uma aventura particular, sem ônus para o Estado e, por consequência, sem retirar o dinheiro público destinado às necessidades básicas da população, da ampliação da infraestrutura e avanço do nosso Produto Interno Bruto (PIB), sedento por investimentos que mantenham nosso ritmo de crescimento, por criação de novas vagas de trabalho e pela qualificação profissional da nossa população.

Hoje se sabe que o projeto terá R$ 20 bilhões emprestados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com juros muito abaixo da taxa cobrada pelo banco em investimentos ao setor produtivo.

Outros R$ 4 bilhões dos cofres públicos vão ser destinados à empresa que vai gerenciar o trem-bala, delírio de burocratas que perderam a noção da realidade. Ou de interesses escusos de grupos empresariais ligados a partidos da base governista.

E mais: anuncia-se que se o projeto “falhar”, se faltar demanda, o governo vai subsidiar ainda mais os juros que hoje já são de pai para filho. Ou seja: o trem-bala vai ser construído apenas para o benefício de poucos, que se beneficiarão em detrimento do restante do país. A falta da democratização desse dinheiro atingirá em cheio a esmagadora maioria dos empresários e cidadãos comuns.

Necessitamos de investimentos na malha ferroviária comum. De ampliação de nossa matriz de transporte, com ampliação de portos, aeroportos e de hidrovias, a forma mais barata de transitar nossas riquezas. Hoje, temos apenas uma hidrovia no rio Tietê iniciada pelo ex-governador paulista Franco Montoro, no início da década de 80 do século passado, e concluída por Orestes Quércia.
Ela funciona bem, promove desenvolvimento e economia para a indústria e o agronegócio, o suficiente para que burocratas e setores políticos que não se beneficiam com esse tipo de transporte fazerem questão de esquecer que somos um dos países com os maiores rios navegáveis do mundo, o que nos permitiria ter uma das maiores malhas hidroviárias do planeta. Não é necessário fazer as contas para descobrir o tamanho da economia em fretes e, em contrapartida, dos benefícios, inclusive para o meio ambiente.

Hoje, temos apenas 28 mil quilômetros de malha ferroviária espalhada no nosso imenso território. Esse número é nitidamente insuficiente, considerando-se o tamanho do país e das necessidades de locomoção.

Para se ter uma idéia do quanto esse projeto é um delírio, basta lembrar que nos últimos 11 anos não investimos em ferrovias (dinheiro público e privado) nem 50% do que está previsto investir no trem-bala. Esse dinheiro é o dobro dos investimentos que fizemos no mesmo período em portos e aeroportos.

Onde estão o rigor e a austeridade pregados pela presidente Dilma Rousseff quando anunciou o corte orçamentário? Ela justifica o corte de R$ 50 bilhões dizendo que precisamos ser responsáveis. Ora, por esse raciocínio o governo passado, principalmente em 2010, foi irresponsável. Se o corte é para evitar o aumento da inflação e dos juros, manter a estabilidade econômica, o projeto do trem-bala desmente a necessidade do arrocho.

A já existente malha ferroviária necessita de manutenção, de ser refeita, repensada. Centenas de cidades têm seu crescimento impedido pelas ferrovias ultrapassadas, cortando os municípios ao meio, prejudicando o trânsito e o zoneamento urbano.

Nossas ferrovias precisam se voltar ao cidadão comum. Os mais pobres e aqueles que vivem abaixo da linha da miséria, sem poder de compra para passagens de ônibus, carros e aviões, vivem segregados em suas cidades, sem condições de se locomover, visitar parentes, ou ter acesso ao lazer. O trem comum é o único meio de transporte que permite a essas populações o mesmo direito constitucional de ir e vir que outros cidadãos usufruem.
Os números do próprio governo apontam para o disparate dessa iniciativa. O custo estimado para o trem-bala é de R$ 66 milhões por km, enquanto o do trem convencional é de R$ 2 milhões por km – 33 vezes a menos.
O dinheiro do trem-bala daria para resolver esse problema de ferrovias em centenas de localidades Brasil afora. Sem falar em investimento em rodovias necessárias em rincões esquecidos. Levamos mais de um século para fazer uma Transnordestina, rodovia que serve a quase dez estados e a milhões de brasileiros que sempre foram relegados a um segundo plano. Levantamentos indicam que o valor destinado para o trem-bala é suficiente para construir oito Transnordestinas. Duas hidroelétricas de Belo Monte. Onde está a racionalidade desse projeto?
Beneficiar um pequeno grupo de passageiros entre o Rio e São Paulo, onde já existe a melhor infraestrutura do país? O que estaremos fazendo é apenas nos afundar no endividamento público e o remédio para consertar o estrago será muito amargo para a sociedade brasileira, para o país.
Essa aberração, transformada em formulação de política pública, não caminha a passos largos porque o próprio Ministério Público Federal entrou na linha pedindo estudos aprofundados. O Ministério do Planejamento tem equipe técnica competente para evitar o desastre.  Vai a presidente Dilma, premiada com uma situação fiscal grave, herdada do seu antecessor, e, em última análise, dela mesma, persistir no disparate?

* Senador pelo PSDB-SP, é bacharel em Direito e em Economia Política. Fez mestrado em Ciência Política na Universidade de Paris, na qual também atuou como professor. Em São Paulo, foi deputado estadual, vice-governador do estado e exerceu vários cargos na administração municipal e estadual. Também foi deputado federal e ministro durante o governo Fernando Henrique (quando ocupou a Secretaria-Geral da Presidência da República e o Ministério da Justiça). Em outubro de 2010, tornou-se o senador mais votado da história do país ao receber mais de 11 milhões de votos para o cargo.
Fonte: Congresso em Foco
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Comentários feitos sobre o artigo:
fonseca (26/03/2011 - 12h33)
tenho idade de vez em quando esqueço de algo, este senador é o mesmo dos trezentos mil. ele tá fazendo lobby para cia. aereas, sabe que o trem bala vai baratewar os preços para trcho rio são paulo. os comentários anteriores é tipico de derrotado dem , psdb. fhc. não investiu em nada, entregou o BRASIL. lula primeiramente investiu no homem. renda. esolas faculdades. escolas tecnicas. etc. agora a dilma vai concluir, vcs. só terão oportunidade de volta ao poder dqqui uns quinze anos. tchau

Prioridades (25/03/2011 - 22h10)
Até hoje, nenhum país sério do mundo aprovou a construção de um trecho de trem bala antes de ter a extenção total do seu território previamente coberto por uma malha de trens convencionais de qualidade que no mínimo já atenda as necessidades basicas da população. Aprovar a construção luxuosa de um trem bala de 34 bilhões para ligar somente 2 estados, ou melhor 3 cidades, Campinas-São Paulo-Rio antes de ter coberto o resto do país com uma malha de trens convencionais é megalomania de terceiro mundista comendo sardinha e querendo arrotar caviar.. Além do mais, conforme o TCU, a passagem do trem bala custaria 200 reais, o mesmo preço da passagem de avião para a ponte aérea Rio-São Paulo... 34 bilhões para ganhar 1 hora de viagem em relação ao tempo que levaria um trem "convencional" de qualidade no mesmo trecho, cujo projeto custaria menos de 1/5 do preço, digo os mesmos trens convencionais de qualidade que se usa na Alemanha, itália e França, não "isso" que temos no Brasil. Com a carência de serviços básicos nos dois estados nem cariocas e paulistas votariam a favor desse disparate se hovesse um referendo para a aprovação do projeto...Investir em transporte é uma das prioridades todos sabemos, mas o que não há dúvida é que o Brasil precisa de uma malha ferroviaria "convencional de qualidade" que ligue o extremo sul ao Norte do Brasil, ligando as grandes capitais, 34 BILHÕES?? dá e sobra prá cobrir isso tudo...

Ademar (25/03/2011 - 16h51)
O comentarista anterior alega que o trem bala é necessário porque o FHC não investiu em ferrovias. E POR ACASO, NOS OITO ANOS SEGUINTES O GOVERNO DO PT INVESTIU? Não. Então é mais fácil e lógico dizer que o trem bala é necessário porque o governo do Lula nada investiu, nem em ferrovias, nem em estradas e muito menos nos Aeroportos que pudessem melhorar o tráfego São Paulo-Rio. Acresce que o lula deixou enorme HERANÇA MALDITA para a Dilma, o que a impede de fazer qualquer investimento relevante por uns dois anos. Vai passar uns 8 meses só pagando a conta que o lula deixou da campanha eleitoral mais cara do Brasil. O trem Bala pode ser bom mais a frente, porque no momento não temos recursos para um investimento que pode chegar a uns R$80 bilhões, mais os caças da FAB, mais Belo Monte, mais Copa, mais Olimpiadas, mais o feijão com arroz que já é dificil o governo fazer direito.

Nilton (25/03/2011 - 16h01)
 Caro Senador. O seu artigo faz do site uma extensão da tribuna do Senado Federal, para expressar uma posição de um político de oposição ao Governo Federal. Convenhamos o Trem-bala não seria necessário se, durante os oito anos de governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso, do qual o Nobre Senador articulista ocupava posição do que se pode chamar "núcleo duro do poder", tanto que foi dele foi Ministro, houvesse tido um mínimo de compromisso terceiro-mundista, para manter ou ampliar a malha ferroviária para transporte de passageiros entre as grandes regiões metropolitanas bem como entre as cidades "polos regionais" com as capitais. Não pois, o governo que o Senador articulista representava privatizou tudo desobrigando os grupos compradores de manter o serviço de transporte de passageiros. Dou um exemplo de um trecho que certamente o Senhor foi usuário o de Santa Fé do Sul até São Paulo, passando por sua querida cidade de São José do Rio Preto. Porque quando o seu partido privatizou a FEPASA não foi assegurado ao povo de Santa Fé do Sul, de Urania, de Jales, de FErnandópolis, Meridiano, Valentin Gentil, Votuporanga, Cosmorama, Engenheiro Balduino (Tabani) o direito de usar um transporte de bom nível e seguro. Na verdade Senador, eu ouvi durante os oito anos que sua coligação PSDB/PFL vendeu o Brasil e suas empresas no atacado e no varejo que, o transporte sobre trilhos só tinha viabilidade econômica, a exemplo do "trem-bala" coreano (feito para as Olimpíadas ou Copa do Mundo) se houvesse um potencial de 20 milhões de usuários ano. Os levantamentos estatísticos entre Campinas-São Paulo-Rio de Janeiro indicam 60 milhões de passageiros ano.Qual é o erro no fato de BNDS financiar o Projeto. O Senhor de esqueceu que todo o projeto "primeiro mundista" de vendas de empresas públicas brasileiras foi financiado com dinheiro do BNDES. O trem bala Campinas-São Paulo Rio evitará que se gaste pelo menos 20 bilhões de reais com a construção de aeroportos. Quais são os interesses que o senhor defende? Po fim "o disparate terceiro-mundista" é sintoma daquela doença que acomete nossa elite branca paulista chamada "síndrome do vira lata", que além de febre provoca mal estar por ter tido a sina ou azar ter nascido no BRAZIL (é com Z mesmo, como a elite gosta). Começou errado Senador! Saudações REpublicanas

Ademar (25/03/2011 - 14h37)
Tudo que é feito pelo governo custa mais que o dobro do que foi inicialmente calculado, talvez perto do triplo. Assim esse desnecessário trem bala (no momento) vai custar, no mínimo, uns R$ 80 BILHÕES. Todo esse dinheirão poderia ser muito melhor aplicado, ao longo de alguns anos, em melhorias sensíveis de nossas ferrovias, aumento dos metros de SPaulo e Rio e metrôs em capitais grandes que ainda não os tem. O POVO BRASILEIRO SERIA MUITO MELHOR SERVIDO. Ainda sobraria algum para melhorias nos sistemas de transporte público nas grandes capitais, além de metros. O Brasil ficou com uma ENORME HERANÇA MALDITA do governo lula e, no momento não tem dinheiro para enfrentar Trem Bala, Caças da FAB, Belo Monte, Copa, Olimpiada, etc...além de tocar o básico. É necessário colocar a casa em órdem, pagar as contas que o lula deixou para traz, e selecionar muito bem só o que for extremamente necessário no momento. Trem Bala, no momento, é sómente um luxo.

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