quinta-feira, 9 de junho de 2011

A SOLIDÃO DO PODER

" O Governo pagou um preço ainda não dimensionado, mas estava beirando uma situação de risco de contaminação letal perante à opinião pública ...

ARTIGO
Agnelo Alves

Não surpreendeu o desfecho da novela Palocci. O que surpreendeu, na verdade, foi a demora do desfecho. Um Governo como o da presidente Dilma Roussef, não comportaria conviver com um problema que assumiu dimensões incontroláveis em que pese a amizade e outros sentimentos, inclusive o de confiança com o companheiro Palocci.

O Governo pagou um preço ainda não dimensionado, mas estava beirando uma situação de risco de contaminação letal perante à opinião pública. A sociedade brasileira ainda não estava indignada. Talvez porque confiasse numa solução que, mesmo sacrificando o protagonista Palocci, não atingisse o Governo no seu todo e, principalmente, a presidente Dilma Roussef.

A presidente Dilma foi eleita graças ao prestígio popular de seu antecessor junto ao eleitorado mais pobre. Mas, assumindo a gestão presidencial, ela vinha ganhando espaço largo na confiança junto à classe A – dos empresários – e à classe B, a mais cobiçada pelos políticos. O ex-presidente FHC aconselhou o seu partido, o fadigado PSDB, para cuidar da classe B. Em vão. O ex-presidente Lula, com uma sensibilidade à flor da pele, percebeu o conselho de FHC e foi lá na classe B com o modelo Dilma e se garantiu, enquanto a presidente conquistava também a classe A.

Crise por crise, o DEM está contorcendo-se com a sua. É um partido partido, isto é, aos pedaços. Não se fundiu com outros graças à competência política do seu presidente nacional, o nosso conterrâneo, José Agripino. Mesmo assim, não acreditamos que sobreviva além das eleições municipais, salvo como partido pequeno, digamos, alternativo. O PSDB deve dar “viva, São Paulo”, pois o seu outro líder maior, Aécio Neves, de Minas Gerais, está às turras, “amigável” com o tucanato.

O PMDB nunca elegeu um presidente da República, mas nunca deixou de ser governo numa partícula maior ou menor, mas sempre governo. Foi assim com todos, desde Sarney. Agora está desfrutando de uma condição especialíssima pela competência do seu líder maior, o vice-presidente da República, Michel Temer, e do seu líder na Câmara Federal, Henrique Eduardo, na condução de sua bancada. Dando-lhe, inclusive, o que nunca teve, unidade.

Ainda no seu primeiro semestre, o Governo Dilma Roussef já terá que marcar uma característica de antes e depois de Palocci? É o que vamos ver daqui para frente. Palocci foi super-Ministro no mesmo cargo – Casa Civil – que José Dirceu, também do PT, foi. A nova ocupante do cargo, uma mulher, Senadora da República, Gleise Hoffmann, já declarou que, ao convidá-la, a presidente Dilma Roussef lhe recomendou que, no exercício, ela mantivesse o perfil de gestão. Política era com Palocci, cuja queda teve participação dos políticos. A nomeação da senadora para substituí-lo foi uma decisão solitária da presidente Dilma.

O poder tem seus momentos de solidão.

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