quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

OITO ANOS DE DEGUSTAÇÃO

28/12/2010 - 07h00
Oito anos de degustação


Por Rudolfo Lago*
“Os pedágios da corrupção política e da falta de educação e formação de boa parte da sociedade brasileira são os dois fatores mais graves que permanecem ao final da era Lula. Aqui, ele não pode abrir a boca para dizer que 'nunca antes na história do país' mudanças foram produzidas"

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Certamente, há um bocado de complexidade na administração de um país grande, com uma imensa falta de uniformidade social, com quistos como os provocados pelo crime organizado no Rio de Janeiro especialmente, com um sistema de educação considerado um dos piores do mundo, com taxa de corrupção altíssima, etc, etc, como o Brasil. Mas o presidente Lula, ao fazer um balanço da sua passagem pelo cargo, conclui que lidar com todos esses problemas foi “gostoso até demais”.

E deve ter sido “gostoso até demais” mesmo. Com uma popularidade de mais de 80%, nunca vista no final de um governo, elegendo como sua sucessora alguém até então desconhecida do mundo político, com recordes na taxa de pleno emprego, economia estabilizada e inclusão social nunca vista, Lula tem mesmo razão de concluir seu mandato satisfeito.

E é evidente a percepção de como ele se sentiu à vontade no posto. Morar num palácio, conversar de igual para igual com os principais governantes do mundo, voar no Aerolula. Lula viveu tudo isso com muito prazer. E não é verdade dizer que qualquer um assim faria. Para citar um exemplo, Itamar Franco sempre pareceu alguém pouco à vontade no posto. Quem o acompanhou como presidente sabe. Itamar fugia da segurança para ir ao shopping de Fusca com a namorada. Passou dois anos insistindo em levar uma vida de pessoa comum que o cargo lhe negava. Ou seja: do ponto de vista da rotina presidencial, das benesses e das obrigações, o que para Lula foi uma delícia, pode ter sido um tanto quanto penoso para Itamar.

A isso se soma a compensação pelas respostas dadas pelas ruas, seja na percepção da sua popularidade, seja nas urnas que elegerem Dilma. Mas, voltando aos problemas listados lá no primeiro parágrafo, a gente sabe que, apesar dos avanços, as complexidades brasileiras continuam fazendo vítimas diárias. E Lula, com a sensibilidade que certamente tem, deve sair sabendo que seus oito anos de mandato não resolveram todos os problemas brasileiros. Ao final do “gostoso até demais”, é o gostinho amargo que fica desses oito anos de degustação. Talvez resida aí o maior desafio que terá Dilma Rousseff: quando Lula deixar a Presidência, e o país sair da sombra provocada pela sua imensa e popular presença, é possível que aflorem de forma mais visível os nossos problemas, e a perspectiva de que temos de enfrentá-los.

Muitos balanços da era Lula foram publicados nos últimos dias. Assim, sem a pretensão da originalidade, vamos a mais um deles aqui. A diferença será avaliar o impacto do que houve de positivo e negativo na perspectiva da ausência de Lula no poder.

Estabilidade econômica
Quando conversamos com investidores, embaixadores ou outros agentes estrangeiros que atuam no Brasil, há sempre um ponto em comum na impressão deles. Todos consideram que o país tornou-se um porto confiável para investimentos. Cumpre as regras do mercado e não está disposto a fazer loucuras. Ou seja: lucra cada vez mais como opção de investimentos externos, e sabe que a contrapartida exigida é que nenhuma guinada haverá na condução da economia. Antes das eleições, em conversas com diplomatas espanhóis e portugueses, eles diziam ter absoluta certeza de que nada mudaria vencesse as eleições Dilma ou José Serra. Assim como Lula manteve os pressupostos de política econômica que Fernando Henrique Cardoso já mantinha, assim fará Dilma. Esse é um ponto da vida brasileira que entrou no automático.

Desenvolvimento e política social
É aqui que está o pulo do gato da era Lula, onde seu governo diferenciou-se de Fernando Henrique e onde garantiu as altíssimas taxas de popularidade que conquistou. Até Fernando Henrique, o controle da inflação e da estabilidade econômica era feito com uma imensa contenção do crédito e do consumo. Evitava-se o avanço de novas camadas da sociedade ao mercado porque se acreditava que isso faria a inflação estourar e que se perderia o controle. Lula apostou na certeza de que deveria facilitar o crédito e melhorar as condições das populações de baixa renda com a ampliação dos programas sociais. Com isso, incrementou fortemente o mercado interno. Quando estourou a crise mundial, o país estava menos dependente dos mercados externos. O Brasil assim escapou da crise. E a imensa satisfação das camadas mais pobres que antes não tinham acesso ao consumo transformou Lula nesse fenômeno de popularidade.

Política externa
Ser chamado pelo presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, de “o cara” está longe de ter sido uma brincadeira gratuita. A política externa de Lula foi um dos pontos mais coerentes e que seguiu sem maiores correções de rumo desde o início. Apoiou-se em dois pontos, e, de um modo geral, mostrou-se adequado em ambos. Em primeiro lugar, partiu do pressuposto de que as mudanças que aconteciam no eixo econômico do mundo abriam espaço para a construção de novas parcerias das quais o Brasil poderia se tornar protagonista. Assim, aproximou-se da China, da Índia. Criou os Brics (o conjunto que hoje forma com outros países emergentes na economia – Rússia, China, Índia, e, agora, a África do Sul). Firmou parcerias firmes com a França. Assim, ganhou musculatura para o segundo ponto: exercer um papel maior de protagonista nos debates internacionais. Nesse ponto, pode ter falhado em moderar as críticas ao Irã ou à Venezuela. Mas é inegável que o Brasil hoje tem opiniões mais respeitadas no plano internacional.

Educação
Lula talvez não tenha se dado conta do imenso impacto negativo da imagem que passava de homem que se fez por si mesmo, sem escola, sem educação formal. Esqueceu-se que era um fenômeno difícil de se repetir. A identificação que gerou nas pessoas com origem semelhante à sua tinha chance quase zero de se repetir nas suas trajetórias, num mundo com cada vez menos espaço para os trabalhos braçais e não especializados. Dentre os países do grupo emergente do qual faz parte, o Brasil tem hoje índices iguais de potencial econômico, mas índices vergonhosamente inferiores quando se verifica a educação de seu povo. Analfabetismo, escolas precárias, baixa formação. Quando o país perceber que não há espaço para um segundo Lula, já terá perdido a batalha para os outros países no futuro.

Corrupção e formação política
Ao avaliar o ministério que formou, que não consegue agradar nem a ela, Dilma provavelmente percebe o tamanho do ônus que vem da escolha de não tentar alterar a prática política. Lula elegeu-se em 2002 centrando o discurso da sua campanha na promessa de uma alteração profunda no plano da ética nas relações políticas. A propaganda do governo é incapaz de esconder que, nesse ponto, a era Lula falhou de forma retumbante. A popularidade de Lula poderia ter estabelecido um pacto com a sociedade, no qual o governo poderia propor um programa de mudanças e impor ao Congresso essa agenda. Se a população apoiasse o programa, o Congresso acabaria, sem alternativa, por encampá-lo. Como nunca houve com clareza tal agenda, o caminho seguido foi o mesmo de sempre: conquistar a qualquer preço a maioria, e essa maioria, satisfeita com as contrapartidas em cargos e em verbas, aprovaria o que lhe fosse pedido. O resultado foram os vários escândalos surgidos. Em muitos momentos, Lula viu-se apenas na condição de defensor de biografias que os escândalos manchavam. Fez assim com José Sarney, com Renan Calheiros, com Jader Barbalho. Chegou ao cúmulo ao afagar Fernando Collor, um presidente que ajudou a derrubar e que tinha feito o mais feio e pesado dos jogos para derrotá-lo em 1989. Difícil conseguir conciliar tal perdão com coerência ou retidão de caráter.

O ministério que tomará posse com Dilma no sábado é só o fruto mais recente das consequências de tal relação política. E é nesse ponto que o Brasil, após os oito anos de degustação da era Lula, talvez mais perca. É evidente que ministros políticos que nada entendem das pastas que ocupam terão menos capacidade de fazer evoluir os setores que ficam sob suas responsabilidades. É evidente que o país perde quando parte das verbas públicas precisa atender aos interesses políticos dos aliados (para dizer o mínimo), pulverizadas nas emendas individuais ao orçamento. Que são, de acordo com as palavras do próprio ministro da Controladoria Geral da União, Jorge Hage, os principais fatores de desvio e corrupção com o dinheiro público.

Os pedágios da corrupção política e da falta de educação e formação de boa parte da sociedade brasileira são os dois fatores mais graves que permanecem ao final da era Lula. Aqui, ele não pode abrir a boca para dizer que “nunca antes na história do país” mudanças foram produzidas.

(*) - Rudolfo Lago
 É o editor-executivo do Congresso em Foco. Formado em Jornalismo pela Universidade de Brasília em 1986, Rudolfo Lago atua como jornalista especializado em política desde 1987. Com passagens pelos principais jornais e revistas do país, foi editor de Política do jornal Correio Braziliense, editor-assistente da revista Veja e editor especial da revista IstoÉ, entre outras funções. Vencedor de quatro prêmios de jornalismo, incluindo o Prêmio Esso, em 2000, com equipe do Correio Braziliense, pela série de reportagens que resultaram na cassação do senador Luiz Estevão.

3 comentários:

  1. Marcos Bicalho (29/12/2010 - 13h57)

    Excelente síntese. Não concordei com pequenas abordagens. Discordo da corrupção, medida no Brasil pela percepção, pela idéia, pela publicidade, por inúmeras denúncias da imprensa/oposição. Nos casos julgados esse governo ainda está abaixo dos governos e partidos da oposição. Esperemos pelo Mensalão no Judiciário. Discordo também da Educação. Professores educam, políticos fazem auê e inauguram escolas. Os problemas nas escolas públicas, que respingam nas particulares, geralmente estão no regime que regula o trabalho dos servidores, massa de eleitores organizada que não pode ser punida por não trabalhar direito. Não concordo, também, quando problemas oriundos do Congresso são colados no Executivo. Por isso existe a divisão dos Poderes, cada um com suas responsabilidades e direta responsabilização. Assim fica fácil ser servidor ou legislador, a culpa sempre será do Executivo. E o Itamar? Itamar foi bom até chamar o FHC e virar o pai que não assumiu o filho Real. Ele não era bom exemplo de vice-presidente paraquedista com calcinha na mão, ministros amigos bêbados, rompantes com a imprensa e depois, como govenador de Minas, pegar a PM mineira para enfrentar o Exército em Furnas contra a privatização. Um doido populista. Falando-se da coerência política, Itamar é oportunista. Faltou falar dos gastos com servidores federais que foram multiplicados nos últimos 8 anos e a correspondência em serviços de qualidade não melhorou em nada. Felicidades.

    Fonte: Texto e comentário do site Congresso em foco

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  2. Ademar (28/12/2010 - 18h23)

    OITO ANOS DE CORRUPÇÃO DESENFREADA PRATICADA PELOS MINISTROS E LEGISLADORES AMIGOS DO PLANALTO. PRATICADA POR FUNCIONÁRIOS QUE TRABALHAVAM A POUCOS METROS DO PRESIDENTE, INCLUSIVE NA CASA CIVIL. Investigação profunda e punições: ZERO. a Policia Federal diz que investiga (mas não divulga as descobertas) e ninguém vê as providências, as punições e a devolução do d9inheiro público roubado. Vejam o caso ERENICE e o enriquecimento de seus filhos, marido e irmãos. Ninguém fala mais nisso nem mesmo se sabe se houve apurações ( tá na cara que não), como aconteceu com todos os demais casos envolvendo amigos de Lula. VEJAM HOJE NO SITE DA FOLHA: www.folha.uol.com.br O ARTIGO SOBRE OS DOIS FILHOS DO LULA QUE NÃO ERAM NADA E AGORA TEM VÁRIAS EMPRESAS QUE FATURAM MILHÕES. Será que de repente a lampada mágica caiu do céu ou foi o prestígio do paisinho?

    Ademar (28/12/2010 - 18h22)

    OITO ANOS DE CORRUPÇÃO DESENFREADA PRATICADA PELOS MINISTROS E LEGISLADORES AMIGOS DO PLANALTO. PRATICADA POR FUNCIONÁRIOS QUE TRABALHAVAM A POUCOS METROS DO PRESIDENTE, INCLUSIVE NA CASA CIVIL. Investigação profunda e punições: ZERO. a Policia Federal diz que investiga (mas não divulga as descobertas) e ninguém vê as providências, as punições e a devolução do d9inheiro público roubado. Vejam o caso ERENICE e o enriquecimento de seus filhos, marido e irmãos. Ninguém fala mais nisso nem mesmo se sabe se houve apurações ( tá na cara que não), como aconteceu com todos os demais casos envolvendo amigos de Lula. VEJAM HOJE NO SITE DA FOLHA: www.folha.uol.com.br O ARTIGO SOBRE OS DOIS FILHOS DO LULA QUE NÃO ERAM NADA E AGORA TEM VÁRIAS EMPRESAS QUE FATURAM MILHÕES. Será que de repente a lampada mágica caiu do céu ou foi o prestígio do paisinho?

    OBS:
    Fonte: Texto e Comentários do site Congesso em foco.

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  3. Kells Mendes (28/12/2010 - 17h31)

    Gostaria de mostrar a vcs alguns dados e fatos reais do Governo FHC e do Governo LULA. Grande abraço . Kells Mendes. Vejam e comparem. Contra fatos e dados não há argumentos. O Lula realmente é o Cara!!! Veja o que The Economist publicou em sua matéria de capa do dia 12/11/2009: (http://www.economist.com/opinion/displaystory.cfm?story_id=14845197) Situação do Brasil antes e depois: Itens Nos tempos de FHC E Nos tempos de LULA. Risco Brasil nos tempos FHC 2.700 pontos. Risco Brasil nos tempo Lula 200 pontos. Salário Mínimo nos tempos FHC 78 dólares. Salário mínimo nos tempos LULA. 210 dólares. Dólar nos tempos FHC Rs$ 3,00. Dólar nos tempos LULA Rs$ 1,78. Dívida FMI nos tempos FHC Não mexeu. Divida FMI nos tempos LULA Pagou. Indústria naval nos tempos FHC Não mexeu. Nos tempos LULA Reconstruiu. Universidades Federais Novas nos tempos FHC Nenhuma. Universidades novas no tempo LULA 10 . Extensões Universitárias nos tempos FHC Nenhuma. Extensões Universitaria Nos tempos LULA 45. Escolas Técnicas nos tempos FHC Nenhuma. Escolas técnicas nos tempos LULA 214. Valores e Reservas do Tesouro Nacional nos tempos FHC 185 Bilhões de Dólares Negativos. Valores e reservas do tesouro Nacional nos tempos LULA. 160 Bilhões de Dólares Positivos. Créditos para o povo/PIB nos tempos FHC 14%. Créditos para o povo PIB nos tempos LULA 34% . Estradas de Ferro nos tempos FHC Nenhuma. Estradas de Ferro nos tempos LULA 3 em andamento. Estradas Rodoviárias nos tempos FHC 90% danificadas. Estradas Rodoviarias nos tempos LULA 70% recuperadas. Industria Automobilística nos tempos FHC Em baixa, 20% . Industria automobilistica nos tempos LULA Em alta, 30% . Crises internacionais nos tempos FHC 4, arrasando o país. Crises internacionais nosctempos LULA Nenhuma, pelas reservas acumuladas. Câmbio nos tempos FHC Fixo, estourando o Tesouro Nacional. Câmbio nos tempos LULA Flutuante: com ligeiras intervenções do Banco Central. Taxas de Juros SELIC nos tempos FHC 27% . Taxas de juros nos tempos LULA 11% . Mobilidade Social nos tempos FHC 2 milhões de pessoas saíram da linha de pobreza. Mobilidade Social nos tempos LULA 23 milhões de pessoas saíram da linha de pobreza. Empregos nos tempos FHC 780 mil . Empregos gerados nos tempos LULA 11 milhões. Investimentos em infraestrutura nos Tempos FHC Nenhum. Investimentos em infraestrutura nos tempos LULA. 504 Bilhões de reais previstos até 2010. Mercado internacional nos tempos FHC Brasil sem crédito. Mercado internacional nos tempos LULA Brasil reconhecido como investment grade . Os oposicionistas fanáticos (ou obtusos) sonegam esta informação ao público! É triste, mas é verdade. Há muita gente que prefere manter-se na escuridão do preconceito a reconhecer que deve mudar de opinião. A verdade precisa ser conhecida de toda a gente! Saudações Brasileiras. Kells Mendes.

    Vergonha (28/12/2010 - 14h24)

    4 queijos, muzzarela, calabreza, Marguerita, Fiorentina, Paulista, Portuguesa... Foi tanta pizza... Êta sujeitinho traidor. Amigo dos banqueiros. Aguiar, Safra, Setúbal e outros crápulas o adoram. Traidor dos aposentados. O Fator Previdenciário pega as suas aposentadorias e pensão ? Claro que não. Nunca mais na vida voterei no PT e me desfiliarei deste partido de traidores e mensaleiros. Lula e FHC, dois gigolôs que nunca trabalharam de verdade e têm aposentadorias (mais que uma) com valores integrais. Vou tentar, quem sabe, o PSOL. Senão, vou de nulo para não ter peso na consciência. O SAPO BARBUDO (que saudades do Brizola) se acha.


    OBS:
    Fonte: Texto e Comentários do site Congesso em foco.

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