sexta-feira, 20 de agosto de 2010

ARTIGOS E CRÔNICAS - WALTER MEDEIROS

Em busca de um amigo


Vésperas do Natal, lembranças aflorando, vontade de rever amigos que fomos encontrando através dos anos. Amigos do Tirol, de quando moramos na Alberto Maranhão, em frente ao sítio onde hoje é o condomínio Jardim Tirol; da Praça Augusto Leite; do Externato Saturnino, onde fizemos o Admissão ao Ginásio em 1966; do Grupo Escolar Monsenhor Calazans Pinheiro, onde estudei em 1965; do Grupo Áurea Barros, do meu primário, em 1963/64, da Escola Industrial Federal do Rio Grande do Norte, onde estudamos de 1967 a 1970; da avenida Rafael Fernandes, onde moramos desde o tempo que se chamava Campo Santo, de 1965 a 1972; e de tantos outros lugares onde vivi, estudei, trabalhei.

Entre tantos, lembrei de um amigo cuja última vez que encontrei faz muitos anos, tocava num evento da Igreja do Candelária. Aí recorri à Internet, para reencontrá-lo. Ademaci Barbosa, músico, com dedicação extrema ao seu trabalho, à sua família e às comunidades, um missionário. Sempre conversamos muito, mas a geografia da cidade findou fazendo com que passássemos a nos encontrar muito esporadicamente. A Internet, no entanto, proporciona também a possibilidade de obtermos mais informações sobre as pessoas que se dispõem a divulgá-las. Assim fiquei sabendo que Ademaci nasceu em Ituiutaba, Minas Gerais e aos quatro anos veio para o Rio Grande do Norte, terra dos seus pais.

Morou na rua Benjamim Constrant, exatamente no período em que nos conhecemos, na convivência com o Professor Saturnino que, além de ensinar as matérias mostrava as atualidades nas revistas e jornais que sempre conduzia. Lembro dele também como marinheiro, que foi. Depois o encontrei como funcionário da EMSERV (Empresa de Serviços de Vigilância), em serviços administrativos. A EMSERV funcionava onde hoje é a Delegacia Regional do Trabalho e onde eu também trabalhava, coincidentemente, no escritório do Dr. Paulo Viveiros.

Em sua atividade artística, naquele tempo o meu amigo já procurava divulgar seu trabalho como compositor e foi até o Rio de Janeiro, mostrando suas músicas nas igrejas. Chegou a encontrar com Roberto Carlos, a quem entregou em mãos algumas de suas composições românticas. Fez na época um concurso do Bandern, passou e logo foi chamado para trabalhar na agencia de Patú, onde ficou três anos também trabalhando na igreja e fazendo missões nos povoados, sítio e fazendas. Depois foi transferido Macau onde também desenvolveu intensa atividade musical. Depois foi transferido para agencia de São Tomé, Ceará-Mirim (lembro que me chamou uma vez para ser jurado em um programa de auditório que promoveu no Ginásio Esportivo) e, finalmente, Natal.

Está também na Internet que Ademaci deixou o BANDERN para viver dedicado à fé, à música e às missões, formando a banda Arco-Ìris. Irrequieto, fez concurso para professor do estado, passou e foi lotado na escola Isabel Gondim, para lecionar Química, Educação Artística e Matemática. Na paróquia sagrada família ele assumiu as missas com a Pastoral da Música, dando aulas de música e cultivando grande amizade com o padre Campos, também compositor. Ele introduziu nas igrejas os ritmos dos instrumentos e teclado, onde antes só se usava órgão.

Quanta informação, não? E tem muito mais, se continuarmos a busca, o suficiente para entender melhor o ser humano humilde e digno com quem convivi naquele período de escola primária e anos vibrantes da adolescência. Tratou-se de uma leitura muito emocionante, rever as fotos e encontrar informações sobre o amigo de tantos momentos. Naturalmente fui buscar a forma de reencontrar pessoalmente aquele amigo. Ao final, o mais surpreendente e chocante: Ademaci Barbosa de Moura, que nasceu em 1951, morreu em março de 2006. Senti, então, uma sensação de perda muito grande; é como se tivesse perdido um irmão.

Walter Medeiros
Jornalista

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